sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Os brasilienses e um pouco de mim

Imagem que retrata o prédio do poder legislativo
Brasília é cidade de muitos encantos. Alguns não são tão fáceis de perceber como meus olhos e sorrisos, mas outros são ainda mais fáceis, como as flores da seca. É engraçado pensar na minha cidade como este lugar onde as pessoas parecem frias, onde tudo parece distante e aonde quem chega se sente perdido e sozinho. Claro que nada disso, nem a fama nem a cama dela, foi construído do nada. Tudo tem fundamento e embasamento que a sociologia, a história e até a geografia podem explicar muito bem. Brasília e suas almas - os que aqui nasceram e os que aqui vivem a muito tempo - são produtos da História. 

Eu vou me aventurar um pouquinho nesses campos e tentar com uma breve explicação mostrar um pouco mais da minha cidade e do meu povo para vocês. os sociólogos, antropólogos, historiadores e geógrafos me perdoem as indiscrições que eu possa vir a cometer na ânsia de me defender das acusações! 

Vamos começar pela criação da cidade: Brasília nasceu de um sonho, foi construída por homens e mulheres vindos das várias partes do país, que não se conheciam e que vieram no desespero de terem sentido e futuro. Essas pessoas que nunca tinham se visto antes, de repente, deveriam se juntar e construir uma cidade e fazer dela o sonho de muita gente. Essa gente que não se conhecia devia fazer serviço que grandes amigos fazem. O resultado disso é que aqui o trabalho vem sempre em primeiro lugar. E aqui muitos dos nossos amigos serão encontrados justamente no trabalho!

Foto que mostra o anoitecer sobre a Catedral de Brasília e as grandes amplitudes da cidade.

Um outro exemplo é a relação entre clima e relacionamentos: Brasília foi construída no meio do planalto central, onde a estação da seca é a mais longa do país, razão pela qual aprendemos a viver nela – a seca. Essa seca provoca reações fisiológicas das mais estranhas (dores, cansaço, nervosismo e angústia) e consequentemente afeta a nossa incrível, sim incrível, habilidade para nos relacionarmos. Isso porque a seca parece secar também os corações. Mas basta apenas uma pequenina gota líquida (seja dos fluídos corpóreos, seja da chuva ou das bebidas) para que a gente se derreta e se mostre com todo o esplendor e com toda a nossa beleza, assim como as nossas flores e nossas árvores. Normalmente, salvo em raras exceções, é preciso muito pouco para que os brasilienses se encantem e encantem o mundo.

Ainda não concorda com o que afirmei sobre a História ser responsável pela fama dos brasilienses? Tudo bem, vamos a mais um argumento: toda a história da cidade tem como base o fato de que a capital precisa ficar no centro do país, mas se olharmos para os quatro cantos do mundo perceberemos que muitas vezes as capitais estão não no centro, mas nos pontos que foram primeiramente habitados. A razão real da mudança não está expressa nos documentos, mas revelada na nossa essência. Os brasilienses por natureza gostam de política, mas não muito de reconstruí-la. Raramente temos grandes manifestações que nascem na cidade e na maior parte das vezes nossas revoltas nascem no brasil, não na cidade. O resultado prático é que temos muitos lugares e espaços para conversas amenas e poucos para grandes debates. Nossos bares não respiram, mas transpiram política.

Para completar falta ainda falar do impacto da geografia na nossa essência. Nossa fama de frios e distantes e a relação disso com nosso relevo. Brasília é a cidade dos horizontes, tudo é muito longe, tudo é muito amplo e sempre o que vemos para todos os lados é o horizonte e a amplitude isso porque estamos em pleno planalto.
Um retrato do infinitoComo tudo nessa cidade é muito longe aprendemos a usar muito o carro, vamos de carro a todos os lugares e com isso restringimos os encontrões e esbarrões no meio da rua. O resultado disso é que vivemos em nossos mundos particulares, distantes como o são os lugares aqui, frios como o horizonte do Planalto Central.

Mas também, como o horizonte que no pôr-do-sol aquece a alma dos amantes, nós damos belíssimos espetáculos com os braços abertos prontos a abraçar todas as almas humanas. Brasília é isso, um conjunto histórico de singularidades que a fazem uma cidade bela e especial e o seu povo único.

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