sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Quanto vale uma vida?!

Sinceramente ao ver a capa da revista VEJA dessa semana fiquei estarrecida! Qual país sério tem tão alarmantes índices de violência no trânsito? Precisei de uma semana para conseguir elaborar o assunto. O que mais me assustou foi buscar nas minhas memórias os caminhos para me manifestar sobre o tema. Sim, fiquei chocada e muito triste ao me lembrar de um texto que escrevi há alguns anos quando uma amiga muito querida - Maika Ramalho Greve - perdeu os dois irmão e um sobrinho em um acidente de trânsito na cidade de João Pessoa.
Capa da revista semanal Veja que trouxe matéria sobre violência no trânsito.
Na verdade falar em acidente é extrema bondade minha, porque o que aconteceu foi na verdade um crime bárbaro, quiçá um triplo homicídio qualificado e com motivo torpe - brincar de roleta russa nos semáforos vermelhos pode se enquadrar em motivo torpe, não?! E o que mais me espantou foi perceber que o texto continua estupendamente atual. Mudamos a lei de trânsito, tornamos crime doloso os acidentes quando o motorista assume o risco do acidente (dirigir embriagado, em alta velocidade e/ou de maneira perigosa), mas o principal não mudou: os valores do brasileiro que continua se achando o máximo atrás de um volante.
Sinceramente é inaceitável um adolescente de 12, 13, 14, 15 anos dirigir com o pai permitindo isso, como foi notícia essa semana. É inaceitável que uma pessoa ache natural furar sinal vermelho só porque está com pressa ou porque quer testar os pardais. E o que dizer das belezuras que estacionam em pista dupla e saem para as compras achando-se donos da rua! Verdade seja dita, não nos falta lei, o que nos falta é moral, o que nos falta é coerência, o que nos falte é respeito.
Isso me fez voltar a questionar e trazer de volta o texto que escrevi em maio de 2007, que está mais atual que nunca:
Quanto vale uma vida?! Hoje, por mais incrível que pareça, me peguei pensando exatamente nisso. Quando nos damos conta de que em pleno século XXI somos obrigados a pensar e repensar o valor de uma vida, é porque talvez seja a hora de rever os valores que modulam nossa sociedade.
Uma grande amiga perdeu, nessa madrugada, dois irmãos e um sobrinho. Shuka, Matheus e Antônio fazem parte do rol de vítimas que não pára de crescer. Junto com eles toda a família entra no mesmo grupo. O custo da vida deles foram alguns goles de bebida alcoólica a mais, consumida por aquele que antes de matá-los era mais uma pessoa em busca de alegria e diversão! Aos 22 anos de idade, João Paulo Guedes Meira matou três pessoas com uma única arma e um único golpe: dirigindo em alta velocidade, embriagado e desrespeitando o sinal vermelho provocou a morte de uma família inteira, mas é certo que ele também perdeu algo importante ontem: não perdeu um pai, nem um filho. Ele perdeu a serenidade, a dignidade e o respeito por si, mesmo que por instantes.
E quando pensamos em uma violência assim, precisamos entender que a vida humana, mesmo que de pessoas que sequer conhecemos, e também a nossa e das pessoas que amamos, vale muito mais que uma caixa de cerveja ou uma garrafa de whisky. E porque muitas vezes esquecemos disso quando saímos com os amigos para uma balada? Porque muitas vezes jovens sem condição de caminhar entram nos seus carros, no meio da madrugada, dirigindo em alta velocidade depois de beberem o suficiente para dormirem por dois dias seguidos e ainda acordarem de ressaca? Porque os pais permitem isso e porque ainda ensinam isso aos seus filhos? Essas são outras perguntas que me fiz hoje! Não sei ao certo a resposta para muitas dessas perguntas que já fiz até agora. Não sei o que leva uma pessoa a dirigir quando não tem condições para isso. Não sei o que leva uma pessoa a andar acima da velocidade e “furar” sinais vermelhos. Não sei o que leva alguém a dar tão pouca importância à vida a ponto de arriscar a sua e a dos outros com desrespeito, descuido e arrogância. Não sei como podem continuar suas vidas as pessoas que perderam pais e filhos em um acidente como esse. Não sei como pode continuar sua vida quem matou outras três pessoas em um momento de desrespeito e arrogância movido pelo excesso de álcool.

Imagem da campanha "Não foi acidente"
Mas existe uma outra questão que merece ser levantada em uma discussão como essa. A violência no trânsito brasileiro, na maior parte das vezes provocada por excesso de álcool, me obriga a pensar no porque ainda aceitamos as campanhas publicitárias de cerveja e outras bebidas alcoólicas que mostram jovens bonitos conduzindo veículos (eles chegam dirigindo seus carros, bebem todas nas praias onde vemos lanchas e carros), aumentando a virilidade e a auto-aceitação em virtude do álcool?
Não se trata de dizer que o álcool é ruim. De forma alguma, eu mesma adoro sair com os amigos para uma cerveja, adoro receber os amigos em casa para um bate-papo com vinhos, cervejas e outras bebidas. A questão é os limites que precisam existir. Os adolescentes bebem cada vez mais cedo e quando completam 18 anos, idade de aprender a dirigir, muitos já estão carregados da imagem de seus próprios pais e amigos dirigindo embriagados e da imagem publicitária mostrando apenas o lado bom do álcool. O que falo é da necessidade de se mostrar os dois lados da questão. Não se trata de proibir, que isso não adianta, mas de pensar que existe um dano social sendo causado e que a publicidade, ao invés de ajudar, tem atrapalhado a reduzir esse dano.
Já nos rebelamos contra os maus provocados pelo cigarro, mesmo sabendo que eles são menores do que aqueles provocados pelo uso inconsequente de álcool. Muitas pessoas podem dizer, o que é isso?! Você está esquecendo que o álcool só mata quando em excesso? O cigarro também! Que o álcool só tira a consciência depois de grande quantidade? Maconha também! Que só alcoólatras precisam de cuidado pois perderam o respeito por si e pelos outros? Esse caso mostra o contrário.
É chegado o momento de repensar o consumo e a publicidade do álcool, de repensar leis de trânsito, de repensar os valores humanos que devem permanecer em nossas vidas. É chegado o momento de entendermos que a vida humana vale muito mais que uma caixa de cerveja ou um relógio. A vida
humana vale muito mais que nossa arrogância de nos acharmos superiores quando entramos em um carro da moda. É chegado o momento de entender que muitas vezes "NÃO É ACIDENTE". E eu resolvi escrever isso hoje para dizer copiando o grande Milton Nascimento que “não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver. E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal...”

Para quem quiser saber mais sobre o que escrevi aqui acesse a revista Veja e o site da campanha Não foi acidente e o link para a seguir http://www.gabrielasoudapaz.org/memorial/467-Francisco-de-Assis-Guerra-Ramalho.htm.

Um comentário:

  1. Você me emocionou agora da mesma forma que em 2007.
    É um assunto que sempre mexe na dor, mas que é necessário ser dito, ser lembrado, até para nós, para que não façamos nada nem igual e nem ao menos parecido.
    Obrigada.
    Maika

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