segunda-feira, 22 de julho de 2013

O gigante acordou?

Dia desses ouvi uma definição que me assustou: o Brasil é um país sem opção! Na frase de uma amiga a ironia de uma crônica, a delicada poesia de uma constatação e a tristeza certa do final de um conto. Fico com a crônica, que me parece uma solução um pouco mais condizente com o momento. Algo menos definitivo é quase sempre menos dolorido!

Foto mostra manifestantes concentrados em frente ao Congresso Nacional em 20/06/2013A grande questão é que efetivamente somos um país sem opção. De repente não temos um caminho que nos separe do abismo de uma urna eleitoral vazia. Das manifestações; que encheram o país de orgulho e fizeram nossos políticos até pensarem um pouco mais no país e menos nos seus próprios umbigos; sobraram apenas os que querem desconstruir a força do povo. E hoje nos resta uma suave sombra do que veremos a seguir: um embate eleitoral frágil, desgastante, desnecessário e distante da realidade que precisa ser mudada. Hoje sequer temos leis ou coragens a nos proteger. Somos um povo cansado demais de não sabermos ser democráticos, que espera demais que o Brasil seja o país do futuro e que perde a fé e a convicção cada vez mais cedo nessa frase cada vez mais distante de nossas realidades. Somos um povo mal-educado e mal formado e não podemos ter ou esperar nada diferente quando até a educação básica nos falta.

E aqui não falo da educação comum e quase ordinária (no sentido literal do termo) de aprender o “bê a bá” e a escrita padrão. Falo aqui de aprender a ler e entender o que está escrito na nossa História, nas linhas dos nossos relevos, na essência de nossas vegetações. É do porquê da nossa bandeira, dos motivos de nossa gastronomia, das bases de nossa formação econômica, da estrutura de nossa política, do jeito “cordial” de nosso povo brasileiro que estou falando. Falo de sermos capazes de entender as letras de nossas músicas, de nossos poetas populares, de nossas lendas urbanas. Falo de aprender a ler a Constituição, as leis e a Bíblia e saber que nenhuma delas é definitiva. Falo de aprender a ler o que fomos e disso construirmos o que podemos ser.

Educação não é apenas saber o alfabeto e nem mesmo entender a nova ortografia da Língua Portuguesa. Também não é só somar 2+2 sabendo o correto como quatro. Educação é ir além, é ser capaz de formar conceitos e construir para si e para o mundo valores e modelos adequados e condizentes com a realidade. Educação é saber o que é e como podemos melhorar o mundo em que estamos. Educação é entender que Bertold Bretch tinha razão ao decretar o analfabetismo político como o pior deles, pois não há nada mais triste e sem educação do que viver em uma democracia e chegar a constatação de que não temos opção. Democracia exige a capacidade plena de optar e a escolha só é possível com o conhecimento e a capacidade de entendimento do que se vive.

E é por essa falta de educação que estamos sem opção! E é contra ela que devemos lutar. Vivemos atualmente um dos momentos mais intensos na nossa capacidade de influenciar e sermos influenciados, um momento único na interação e na disseminação de informações. E ainda assim somos muito mal informados e muito incapazes de apreender aquilo que vemos. Vivemos um momento em que o conhecimento e o compartilhamento dele pouco importam. E o que interessa é se estamos sendo atendidos em nossas expectativas. E isso é muita falta de educação mesmo. Em artigo na Revista Época, Eliana Brum mostrou bem como isso impacta os dias atuais e como isso fará diferença no futuro dos nossos jovens http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI247981-15230,00.html.

Na praça dos três poderes em Brasília bandeira do país tremula antes dos protestos.E como mudar, como melhorar? Infelizmente não tenho essas respostas. O estudo pode me trazê-las, mas até o momento só consigo enxergar que pensar democraticamente a educação é pensar nos mecanismos que podem garantir igualdade real entre todos os brasileiros (educados pelos mesmos moldes e princípios, quiçá pelas mesmas escolas públicas, todos eles). Nesse contexto devemos possibilitar um aumento na utilização dos novos meios de comunicação como ferramentas educativas. O Facebook é ótimo para divertir, também pode ser ótimo para educar. Aumentar nossas discussões em temas controversos e ampliar o acesso de toda a população a essas discussões também é um bom passo. Também é importante caminharmos rumo a um compartilhamento real do conhecimento. De que adiantam dados e informações quando apenas uma minoria terá acesso. De que adianta um Diário Oficial que ninguém entende e de que adianta uma Globo que não o explica?

Só quando formos capazes de compreender o jornal como compreendemos a novela, ou a piada do youtube; seremos capazes de vivenciar nossa democracia real. Só quando tivermos educação real e consistente com as necessidades do país seremos verdadeiramente um país do mundo. Por enquanto, com nossos bacharéis e licenciados incapazes de escrever corretamente e de entender uma plataforma de governo nós podemos nos considerar apenas um arremedo daquilo que podemos ser! E diante disso a pergunta que não quer calar: o gigante acordou mesmo?!

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